Estudo revela riscos da automação no mercado de trabalho em Portugal

Análise da FFMS aponta desafios significativos da IA no emprego nacional.

há 6 dias
Estudo revela riscos da automação no mercado de trabalho em Portugal

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Resumo

Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) revela que a automação e a inteligência artificial (IA) representam desafios significativos para o mercado de trabalho em Portugal. A análise, que abrange 120 profissões, indica que mais de um terço dos empregos apresenta "baixa exposição" à automação, enquanto 28,8% estão em "sérios riscos" de desaparecimento. Apenas 22,5% das profissões são consideradas "em ascensão", com potencial para beneficiar da digitalização. O estudo, coordenado por Rui Baptista do Instituto Superior Técnico, destaca que a maioria dos empregos não está preparada para aproveitar a complementaridade entre IA e trabalho humano. Profissões em maior risco incluem "outros trabalhadores relacionados com vendas" e "empregados de mesa e bar". Os autores recomendam políticas ativas de requalificação e revisão curricular para incluir competências digitais, enfatizando a necessidade urgente de adaptação do mercado laboral às novas realidades tecnológicas. A promoção da adaptabilidade da força de trabalho deve ser uma prioridade, com foco na proteção social e requalificação dos trabalhadores vulneráveis.

Um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) revela que o mercado de trabalho em Portugal enfrenta desafios significativos devido à automação e à inteligência artificial (IA). De acordo com a análise, que categoriza 120 profissões, mais de um terço dos empregos no país apresenta uma "baixa exposição" aos efeitos da automação, enquanto 28,8% estão em "sérios riscos" de desaparecer. Este estudo, intitulado “Automação e inteligência artificial no mercado de trabalho português: desafios e oportunidades”, foi divulgado na última sexta-feira e destaca a necessidade urgente de adaptação do mercado laboral às novas realidades tecnológicas.

As "profissões em ascensão", que têm potencial para beneficiar da digitalização e da IA, representam apenas 22,5% do emprego em Portugal, tornando-se a segunda classe menos populosa. Em contrapartida, 12,9% das profissões estão classificadas no "terreno das máquinas", onde também podem usufruir de ganhos de produtividade através da IA. A análise, que se baseia em dados dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) de 2021, abrange cerca de 3,2 milhões de trabalhadores, predominantemente do setor privado.

O estudo, coordenado por Rui Baptista, professor do Instituto Superior Técnico, conclui que a maioria dos empregos não está preparada para tirar partido dos benefícios que a complementaridade entre a IA e o trabalho humano pode oferecer. Mais de 35% dos trabalhadores estão em profissões pouco expostas à automação, mas que também apresentam um fraco potencial de transformação, categorizadas como "terreno dos humanos". Por outro lado, quase 30% dos empregos estão classificados como "profissões de colapso", o que significa que estes trabalhadores enfrentam uma vulnerabilidade significativa à disrupção tecnológica.

Entre as profissões em maior risco, destaca-se a categoria de "outros trabalhadores relacionados com vendas", que representava 5,3% do emprego em 2021. Outras profissões em colapso incluem "outras profissões elementares" e "empregados de mesa e bar", com quotas de 3,1% e 2,5%, respetivamente. Curiosamente, nenhuma das dez maiores profissões em Portugal está classificada como uma "profissão em ascensão".

Os trabalhadores nas profissões em colapso tendem a ter rendimentos mais baixos e menos qualificações, enquanto aqueles nas profissões em ascensão gozam de salários mais elevados, refletindo as exigências avançadas em competências digitais. O estudo revela que 63,4% dos trabalhadores em profissões em ascensão possuem, pelo menos, um diploma de ensino superior, em comparação com apenas 5,4% nas profissões em colapso.

Os autores do estudo alertam para a necessidade de soluções urgentes para a reestruturação ou possível desaparecimento de empregos vulneráveis. Eles recomendam que os decisores políticos considerem a implementação de políticas ativas, focadas na requalificação dos trabalhadores e na reinserção dos desempregados no mercado de trabalho. Além disso, enfatizam a importância de rever os currículos escolares para incluir literacia digital e competências relacionadas com a IA, bem como a necessidade de incentivar a adoção de tecnologias emergentes através de subsídios e apoio técnico às empresas.

A análise conclui que a promoção da adaptabilidade da força de trabalho deve ser uma prioridade central, com programas de requalificação direcionados para os trabalhadores em profissões em colapso, ao mesmo tempo que se reforçam os mecanismos de proteção social. A urgência desta questão é evidente, dado o impacto potencial que a automação e a IA podem ter no futuro do emprego em Portugal.