Universidade de Haifa cancela exibição de documentário premiado

Cancelamento do documentário "No Other Land" gera debate sobre liberdade de expressão em Israel.

há 3 dias
Universidade de Haifa cancela exibição de documentário premiado

© FREDERIC J. BROWN/AFP via Getty Images

Resumo

A Universidade de Haifa, em Israel, cancelou a exibição do documentário "No Other Land", vencedor do Óscar de Melhor Documentário, após críticas de organizações sionistas. O filme, que documenta a ocupação da Cisjordânia, foi codirigido por realizadores palestinianos e israelitas e tinha a sua projeção agendada para a próxima segunda-feira. Alon Lee Green, da ONG Standing Together, expressou indignação pela decisão, que ocorreu após pressões externas. A universidade aguarda aprovação do documentário pelo Conselho de Revisão de Filmes do Ministério da Cultura e Desporto, e decidiu suspender a exibição até que a situação seja clarificada. Organizações como Im Tirtzu e B'Tsalmo criticaram a exibição, considerando-a propaganda contra Israel. O clima de tensão aumentou após a agressão ao realizador palestiniano Hamdan Ballal, refletindo as complexas dinâmicas entre as comunidades israelita e palestiniana. Durante a cerimónia dos Óscares, Yuval Abraham, coautor do filme, apelou por paz e respeito mútuo entre os povos. Basel Adra, um dos realizadores, expressou esperança de que a sua filha não enfrente a violência da ocupação.

A Universidade de Haifa, em Israel, anunciou o cancelamento da exibição do documentário "No Other Land", que conquistou o Óscar de Melhor Documentário, após receber críticas de organizações sionistas. A decisão foi comunicada nas redes sociais e gerou um intenso debate sobre a liberdade de expressão e a censura no país.

O filme, codirigido por realizadores palestinianos e israelitas, tinha a sua exibição agendada para a próxima segunda-feira e documenta a ocupação da Cisjordânia por Israel, abrangendo cinco anos de filmagens na região de Masafer Yatta. Este local é habitado pelo jornalista palestiniano Basel Adra, um dos autores da obra, que retrata as demolições frequentes de habitações, escolas e infraestruturas essenciais pelo exército israelita.

Alon Lee Green, cofundador da organização não governamental israelita Standing Together, que promovia a exibição, expressou a sua indignação nas redes sociais, questionando: "Querem perceber quão difícil é a situação?" Ele destacou que a Universidade de Haifa, reconhecida por ser uma das instituições académicas com maior diversidade étnica em Israel, cancelou a projeção do filme após pressões externas.

A Standing Together, que organizou várias exibições de "No Other Land" em diferentes campus de Israel, revelou que a universidade está à espera da aprovação do documentário pelo Conselho de Revisão de Filmes do Ministério da Cultura e Desporto israelita. Em resposta a uma consulta do diário progressista Haaretz, a universidade esclareceu que as diretrizes do conselho se aplicam apenas a exibições comerciais, não educacionais. Contudo, devido a incertezas sobre a necessidade de autorização, a instituição decidiu solicitar uma decisão formal, suspendendo a projeção até que a situação seja clarificada.

Organizações sionistas, como a Im Tirtzu e a B'Tsalmo, criticaram a exibição do filme, considerando-a uma forma de "propaganda contra Israel". Após a vitória de "No Other Land" nos Óscares, o ministro da Cultura israelita, Miki Zohar, instou cinemas e instituições culturais a não exibirem a obra, acusando-a de apoiar inimigos do Estado.

O clima de tensão em torno do filme foi exacerbado por incidentes recentes, como a agressão ao realizador palestiniano Hamdan Ballal, que foi atacado por colonos israelitas na Cisjordânia e detido pelas forças israelitas enquanto recebia assistência médica. Ballal foi libertado dois dias depois, após interrogatório.

Durante a cerimónia dos Óscares, o realizador israelita Yuval Abraham, coautor de "No Other Land", fez um apelo poderoso por um futuro de paz, destacando que as vozes de palestinianos e israelitas juntas são mais fortes. Ele pediu o fim da "destruição atroz de Gaza" e a libertação dos reféns israelitas capturados pelo Hamas. Abraham enfatizou a desigualdade entre os dois povos e a necessidade de uma solução política que respeite os direitos de ambos.

Basel Adra, por sua vez, expressou a sua esperança de que a sua filha, ainda bebé, não tenha de enfrentar a violência e as dificuldades que a sua comunidade vive diariamente sob a ocupação israelita. A situação em torno da exibição de "No Other Land" continua a ser um reflexo das tensões persistentes na região e das complexas dinâmicas entre as comunidades israelita e palestiniana.