Desafios da Mobilidade Reduzida nos Transportes Públicos de Lisboa

Lisboa enfrenta problemas de acessibilidade nos transportes públicos para pessoas com mobilidade reduzida.

há aproximadamente 14 horas
Desafios da Mobilidade Reduzida nos Transportes Públicos de Lisboa

© Global Imagens

Resumo

Em Lisboa, a acessibilidade nos transportes públicos representa um desafio significativo para pessoas com mobilidade reduzida, como Gerson, Cesaltina e Rúben. Gerson, tetraplégico, enfrenta dificuldades diárias, como a falta de rampas em autocarros e a necessidade de solicitar rampa para comboios com antecedência, o que limita a sua liberdade de deslocação. Cesaltina, com deficiência motora, depende de táxis adaptados, mas enfrenta incertezas ao utilizar transportes públicos devido à falta de informação sobre a acessibilidade. Rúben, cego, lida com a falta de sinalização sonora, tornando as suas viagens complicadas. Os operadores de transportes, como o Metropolitano de Lisboa e a Carris, reconhecem a gravidade da situação e prometem melhorias até 2026, mas a realidade atual continua a ser uma luta diária para muitos. A Federação Portuguesa do Táxi apela à autarquia para aumentar a frota de táxis adaptados, sublinhando a necessidade urgente de garantir um transporte acessível e digno para todos.

Cesaltina, Gerson e Rúben enfrentam diariamente os desafios da mobilidade reduzida em Lisboa, onde os transportes públicos apresentam obstáculos significativos que complicam as suas deslocações. Gerson Rodrigues, de 40 anos, que se tornou tetraplégico aos 22, relata que as suas viagens são frequentemente limitadas a obrigações profissionais. Para chegar ao trabalho, ele percorre quatro quilómetros na sua cadeira elétrica, um trajeto que se torna desgastante devido à falta de acessibilidade nos autocarros. Durante uma recente tentativa de apanhar o autocarro que o levaria de casa, Gerson deparou-se com um veículo sem rampa e outro com a rampa avariada. “Pago um passe de 40 euros e não consigo usufruir do mesmo que os outros utilizadores. Sinto-me frustrado quando vejo outros passageiros a entrar e eu fico na paragem”, desabafa.

Os problemas não se limitam aos autocarros. Para utilizar o comboio, Gerson precisa de solicitar a rampa com uma antecedência mínima de seis horas, o que o impede de tomar decisões espontâneas, como ir à praia. O metro também não é uma opção viável, uma vez que os elevadores estão frequentemente avariados. “Raramente saio e vou a algum outro sítio, porque sei que arrisco não conseguir um transporte acessível para voltar para casa”, explica.

Cesaltina Sousa, uma jovem com deficiência motora, tem a sorte de contar com apoio financeiro da escola onde estuda, o que lhe permite utilizar táxis adaptados. “É muito mais prático, porque não preciso de me preocupar se o transporte tem rampa”, afirma. No entanto, quando tenta usar outros transportes públicos, a situação é diferente. “Nunca sei qual autocarro tem rampa ou se a rampa está a funcionar”, lamenta, sublinhando a falta de informação em tempo real.

Rúben Portinha, que é cego, enfrenta igualmente dificuldades nas suas deslocações. Para treinar goalball, uma modalidade paralímpica, ele precisa de percorrer um caminho complicado que começa na sua casa em Abrunheira, Sintra. Os passeios irregulares e estreitos obrigam-no a andar pela estrada, e a falta de sinalização sonora nos transportes públicos torna a sua viagem ainda mais desafiadora. “Os principais obstáculos são a falta de informação sonora sobre a chegada dos autocarros e o número da carreira”, explica Rúben, que se vê obrigado a perguntar aos motoristas para saber onde está.

Os operadores de transportes públicos em Lisboa, como o Metropolitano de Lisboa e a Carris, reconhecem que a acessibilidade é uma questão crítica. Em 2024, o Metropolitano registou um aumento nas queixas sobre escadas e elevadores avariados, atribuindo isso a intervenções de modernização. A empresa promete que, até 2026, 93% das estações terão acessibilidade plena. A Carris, por sua vez, afirma que está a implementar melhorias, embora ainda existam autocarros sem rampas de acesso.

A Carris Metropolitana, que opera na Área Metropolitana de Lisboa, garante que a maioria dos seus veículos está equipada com rampas, mas a falta de informação sonora continua a ser um problema. A CP - Comboios de Portugal também reconhece falhas no sistema de avisos sonoros e está a trabalhar para aumentar o número de estações acessíveis.

Apesar das promessas de melhorias, a realidade para pessoas com mobilidade reduzida em Lisboa continua a ser uma luta diária. A escassez de táxis adaptados e a falta de fiscalização das licenças para transporte de pessoas com mobilidade reduzida agravam ainda mais a situação. A Federação Portuguesa do Táxi apela à autarquia para aumentar a frota de táxis adaptados, uma necessidade urgente para garantir que todos os cidadãos possam usufruir de um transporte acessível e digno.