Mariana Mortágua critica aumento de gastos militares na Europa

A coordenadora do BE defende que a Europa já é uma potência militar e critica a corrida armamentista.

há aproximadamente 10 horas
Mariana Mortágua critica aumento de gastos militares na Europa

© Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

Resumo

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, manifestou a sua oposição aos planos de defesa da União Europeia (UE), argumentando que a Europa já possui um arsenal militar suficiente e é uma potência militar. Durante uma sessão em Évora, Mortágua destacou o aumento dos gastos com armamento na Europa, que subiram de 182 mil milhões de euros em 2014 para 279 mil milhões em 2022, e criticou a narrativa de que a Europa está desprevenida face a ameaças externas. Ela defendeu que a produção de armas deve ser vista com cautela, pois estas podem ser utilizadas de forma letal. Por outro lado, o representante especial da UE para o Sahel, João Gomes Cravinho, abordou a necessidade de apoio militar a países da região, enfatizando que a segurança deve ser entendida de forma abrangente. Cravinho defendeu um novo diálogo entre a Europa e os Estados do Sahel, focando na estabilização e desenvolvimento como soluções para a insegurança e os fluxos migratórios desordenados.

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, expressou hoje a sua oposição aos planos de defesa da União Europeia (UE), argumentando que a Europa já possui um arsenal suficiente para se proteger e é, de facto, uma potência militar. Durante uma sessão intitulada “Mais dinheiro para a guerra?”, realizada na Biblioteca Pública de Évora, Mortágua enfatizou a necessidade de desafiar as narrativas predominantes que promovem a corrida armamentista. “Devemos ter a coragem de afirmar que não precisamos de mais armas”, declarou.

Mortágua apresentou dados que revelam um aumento significativo nos gastos com armamento na Europa, que subiram de 182 mil milhões de euros em 2014 para 279 mil milhões em 2022. A líder do BE sublinhou que a ideia de que a guerra na Ucrânia e a instabilidade provocada por figuras como Donald Trump na NATO apanhou a Europa desprevenida é uma falácia. “As despesas militares da UE aumentaram 30% entre 2021 e 2024 e, este ano, deverão atingir os 326 mil milhões de euros”, afirmou.

Em relação a Portugal, Mortágua destacou que o país investe uma percentagem do seu PIB em defesa superior à de Itália e Espanha. Ela também mencionou que a Europa possui um número de militares ativos superior ao da China e da Rússia, apenas atrás dos Estados Unidos, consolidando a sua posição como uma potência militar. “A Europa tem capacidade para se defender, pois exporta armas”, reiterou, acrescentando que a defesa da produção de armamento como estratégia económica implica um futuro marcado pela guerra.

Mortágua alertou que a produção de armas deve ser vista com cautela, pois estas inevitavelmente serão utilizadas. “É romântico pensar que as armas não acabarão nas mãos de quem as usará para matar, sem garantias de que serão entregues a democracias”, enfatizou. A coordenadora do BE criticou ainda a transição de empresas alemãs de comboios para a fabricação de tanques de guerra, argumentando que a Europa deveria priorizar investimentos na sua transição energética.

A líder política defendeu que a narrativa de que a Europa está sob ameaça e incapaz de se defender é enganosa. “É falso. É mentira. É propaganda. Temos capacidade para nos defender”, afirmou. Em vez de aumentar os gastos militares, o Bloco de Esquerda propõe uma cooperação entre Estados europeus e democráticos, focando na promoção de uma diplomacia para a paz e no desarmamento multilateral.

Por outro lado, o representante especial da União Europeia para o Sahel, João Gomes Cravinho, abordou a necessidade de a Europa considerar o apoio militar a países daquela região africana, que enfrentam instabilidade política e social. Durante uma conferência em Madrid, Cravinho destacou que a segurança deve ser vista de forma abrangente e não apenas como um desafio militar. Ele alertou que, mais cedo ou mais tarde, a UE terá de apoiar militarmente os países do Sahel, que têm sido palco de golpes de Estado e enfrentam a ameaça de grupos terroristas.

Cravinho sublinhou que as juntas militares que governam atualmente alguns destes países perceberam que a solução para a insegurança não é apenas militar. Ele defendeu a necessidade de um novo diálogo entre a Europa e os Estados do Sahel, enfatizando que a estabilização e o desenvolvimento são cruciais para criar condições de vida para a população jovem da região. A instabilidade e a falta de oportunidades têm gerado fluxos migratórios desordenados, que representam um desafio para a Europa.

O representante europeu apelou à criação de um consenso sobre o Sahel e à necessidade de desenvolver novos instrumentos de cooperação que se adequem ao contexto de sociedades frágeis. Ele também mencionou a importância de dialogar com países vizinhos e outras potências com influência na região, como a Turquia e a China, para abordar a questão da segurança de forma mais integrada.